O calvário de Nafissatou
Nem tudo ainda foi dito, a não ser que ela se chama Nafissatou, tem 32 anos e uma filha de nove, vive no Bronx, trabalha há três anos como camareira no Sofitel de Times Square, é negra, pobre e de comportamento exemplar. Fala-se muito da grandeza de Dominique Strauss-Kahn nas rádios, tevês, internet, jornais e revistas, do poderoso diretor-presidente do FMI, ex-ministro, candidato preferido à presidência da França, e de sua luxuosa casa alugada, omitindo-se o fato de ter submetido mulheres à força física. Seu drama e sua descida ao inferno ofuscaram o caso Bin Laden, o torneio de Roland Garros e o debate político da sucessão de Sarkozy. Defende-se a presunção de inocência e acredita-se na impunidade, esquecendo-se de Nafissatou. Dela pouco se comenta, afinal, é só une femme de ménage, uma imigrante, uma modesta camareira.
É aí que aparece a mão da Justiça a decidir sobre o destino de um dos homens mais poderosos do planeta, defendido por célebres profissionais dos EUA, e que procuram desacreditar a vítima agredida. Raro ouvir-se sobre Nafissatou, suas dificuldades, sua origem africana, sua filha e suas esperanças. O que importa é o jogo de poder, as negociações de bastidores. Ninguém se interessa pela vítima, o que importa é o futuro de DSK, reincidente em violência sexual.
Por: Buzaglo Dantas