SETOR | ENERGIA – Panorama Geral das Fontes de Energia no Brasil

A preocupação crescente com a geração de energia no país e o sempre ameaçador risco de apagões, que voltaram a ser discutidos em virtude da grande escassez de chuvas no último verão, tem fundamento, especialmente porque a principal modalidade de geração de energia elétrica do Brasil nos dias de hoje é a hidrelétrica, a qual corresponde a mais de 60% da matriz energética nacional.

Apesar de ser a principal fonte de energia nacional, nos últimos anos, as hidrelétricas começaram a sentir a crescente oposição por parte da população, em virtude dos impactos causados pela sua implantação, com destaque para a ocorrência de alagamentos de grandes áreas e a recorrente necessidade de reassentamento de população, especialmente quando se trata de indígenas ou quilombolas.

De fato, não se nega que a construção de uma usina hidrelétrica gera significativos impactos socioambientais, por absoluto. No entanto, tais empreendimentos sempre dependem de prévio estudo ambiental, sendo que, de acordo com o seu tamanho, é exigido EIA/RIMA, modalidade mais completa de estudo ambiental. Ocorre que, mesmo com a aprovação do estudo ambiental e a adoção das medidas necessárias para mitigar e compensar os impactos gerados, virou rotina que esses empreendimentos sejam questionados judicialmente com a paralisação de suas obras.

Em paralelo, em que pese ser uma energia mais cara e mais poluente, a termelétrica vem aumentando a sua participação na matriz energética nacional, despontando como uma alternativa às hidrelétricas. Indiscutível a importância que as termelétricas possuem e sempre possuíram para a geração de energia no país. Entretanto, deve-se ter cuidado com uma grande exploração de tal fonte de energia, que se deparará, futuramente, com outro grave problema: a escassez dos recursos não renováveis, tais como petróleo, gás e carvão, com o consequente aumento de preço de tais recursos.

Por sua vez, fontes de energia renováveis tentam se estabelecer no país, com destaque para a eólica. O Brasil tem vivenciado uma expansão dessa modalidade de energia, estimulada pela boa qualidade dos ventos principalmente nas Regiões Nordeste, Sudeste e Sul, bem como por incentivos para a implantação de tais empreendimentos. Inclusive, no próximo leilão de energia,a ser realizado em setembro desse ano, cerca de 70% dos projetos apresentados são de eólicas.

Ainda assim, a energia eólica encontra alguns entraves para seu pleno estabelecimento, especialmente em relação aos impactos ambientais que gera, fato agravado pela ausência, em nível federal, de uma normatização sobre o assunto. Assim, cada Estado possui legislação própria para tratar de tais empreendimentos, o que acaba por gerar discrepâncias sem sentido, como a exigência de EIA/RIMA em um Estado e de estudos mais simplificados como o Relatório de Controle Ambiental (RCA) em outro. Aguarda-se, assim, a edição, pelo CONAMA, da Resolução que, enfim, regulamentará o licenciamento ambiental de empreendimentos geradores de energia eólica em nível nacional, cuja minuta, inclusive, já foi objeto de comentário por nossa equipe.

Diante do cenário acima, constata-se que o país é dotado de imensas possibilidades em matéria de exploração de fontes energéticas. A existência de uma matriz energética mista e diferenciada é essencial para que um país, especialmente do tamanho do Brasil, possa atender à crescente demanda por energia, sendo fundamental que as diferentes fontes sejam estimuladas e integradas  entre si.

No entanto, para que tal potencial seja devidamente explorado, é imperioso que se tenha uma regulamentação mais clara e efetiva sobre os empreendimentos de geração de energia, especialmente no tocante ao licenciamento ambiental, buscando-se equacionar  ao máximo os problemas rotineiramente enfrentados por tais empreendimentos, de forma a evitar que projetos essenciais ao país sejam prejudicados, ou, até mesmo, descartados.

Por fim, é preciso que tanto governo quanto empreendedores desenvolvam meios de melhorar a divulgação de informações sobre esses empreendimentos, as quais devem ter por base conhecimento técnico, científico e jurídico que forneça à população os meios de, por si, avaliar os prós e os contras de cada modalidade, evitando-se, dessa forma, preconceitos e aversões e estimulando o debate e participação de todos.

Por: Buzaglo Dantas

2014-06-05T11:26:14+00:005 de junho de 2014|

Governo muda regras para usinas eólicas

O Governo decidiu avaliar a pressão sobre as usinas eólicas e suspendeu algumas exigências para o processo de leilão de energia. Com decisão da Aneel, as usinas de vento estão isentas de multas e não têm mais obrigação de contratar energia de reposição. “Foi uma decisão importante. Não estamos pedindo ausência de regras, mas elas têm que respeitar a natureza da fonte. O comportamento do setor eólico é diferente dos demais”, diz a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Élbia Melo. “Estavam exigindo uma apólice de seguro muito acima do que é necessário e viável.”

A energia dos ventos passou a participar dos leilões do governo em 2009. Eram os chamados leilões de reserva, que se baseavam em condições privilegiadas em relação ao leilão tradicional. A partir de 2010, no entanto, as eólicas começaram efetivamente a vender energia para as distribuidoras, nos leilões do mercado regulado de energia e, com isso, passaram a seguir as regras impostas aos demais.

Os contratos assinados pelas empresas chegavam a exigir, por exemplo, que cada parque eólico deveria garantir uma capacidade máxima de energia entre 19h e 22h, diariamente. Só no ano passado, quando os primeiros parques eólicos começaram a entrar em operação efetiva, é que o governo percebeu que não dava para exigir que o vento soprasse mais forte em determinado horário do dia.

No fim de 2013, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) chegou a alertar que pelo menos quatro parques eólicos seriam multados por não terem condições de garantir a capacidade total contratada. O alerta resultou em uma série de reuniões entre agentes do setor e do governo, em dezembro.

Agora, para aliviar a tensão, a Aneel suspendeu a aplicação das multas. Ficou decidido que o tema será novamente debatido, para estabelecer uma medida específica para o setor. Procurada pelo Valor Econômico, a Aneel não comentou o assunto. “Nós ainda estamos construindo um processo de regulação de energia no Brasil. Por isso, os engenheiros acabam aplicando regras de outros setores nas eólicas”, comenta Élbia. “É preciso ficar claro que a energia contratada está sendo efetivamente entregue. O que está sendo discutido é o excedente nos horários de pico”, diz a presidente da Abeeólica, acrescentando que “a decisão mantém adequado o sinal de investimento no setor”.

Em 2013, segundo dados da associação, os parques eólicos venderam ao mercado 45% da capacidade instalada, com entrega efetiva de 53%. No ano anterior, a capacidade vendida foi de 42%, mas 54% da geração chegou a ser comercializada. O setor fechou o ano passado com 142 parques eólicos espalhados no país e potência total de 3,46 mil megawatts (MW), o que corresponde a 3% da matriz energética nacional. A partir dos projetos eólicos já contratados, as eólicas chegarão a 11,1 mil MW daqui três anos, praticamente a mesma potência da hidrelétrica de Belo Monte, que está em construção no rio Xingu, no Pará.

Fonte: Valor Econômico

2014-02-19T17:25:49+00:0019 de fevereiro de 2014|
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