Embora muito utilizada nos dias atuais, a palavra sustentabilidade vem sendo interpretada por alguns, ditos entendedores do assunto, de maneira absolutamente contrária ao seu real significado. Comenta-se que seria utilizada para frear o desenvolvimento econômico, contudo não é assim que se deve entender, na medida em que a sustentabilidade surgiu para frear os impactos ambientais causados pelas atividades econômicas humanas.

Porém como podemos afirmar que a sustentabilidade não é um freio ao desenvolvimento capitalista? Simplesmente observando os pilares que a compõem: o ambiental, o social e, finalmente e não menos importante, o econômico. Qualquer que seja a ação, que exclua, ou melhor dizendo, não contemple um destes três pilares será meramente uma ação ambiental, meramente uma ação social ou meramente uma ação econômica.

Muitas vezes, ao se intitular uma ação ou projeto de sustentável, faz-se-o de maneira equivocada, como por exemplo, a chamada Sustentabilidade Ambiental ou Sustentabilidade Econômica. Ora, por certo, se a atividade é sustentável, logo ela será ambiental. Da mesma forma, se é sustentável, será econômica e social. Percebe-se como os projetos sustentáveis, na maioria das vezes já nascem errados no momento de sua criação.

Analisando o mundo fático, vejamos o seguinte exemplo, muito praticado por todos nós e sempre chamado de sustentável. Quando a pessoa física destina corretamente o seu lixo doméstico, encaminhando-o à coleta seletiva, está promovendo uma ação sustentável? Categoricamente não. Está realizando uma ação ecologicamente correta. Nesta ação há um retorno ambiental evidente, uma vez que se destina de maneira correta o resíduo gerado. Há um retorno social, por mais sutil que seja, quando, ao encaminhar o resíduo ao aterro, a coletividade é beneficiada por este fator. Porém, nesta ação, há um benefício econômico? Não, não há. Logo, não se está realizando uma ação sustentável.

Certamente, em decorrência desta ideia equivocada acerca da sustentabilidade, algumas empresas tem certa aversão ao tema, sendo que muitas desenvolvem algum projeto ou ação ambiental, mas não conseguem atingir efetivamente o real propósito da sustentabilidade. Esta aversão se dá por um simples motivo: ações ambientais não trazem retorno econômico considerável. À medida que as empresas perceberem que projetos sustentáveis estão intimamente ligados à sua linha produtiva, gerando economias consideráveis, retornos em marketing verde, fortalecimento de suas marcas, entre outros tantos benefícios, o olhar das mesmas para um mundo sustentável certamente mudará.

Porém, por onde começa um projeto sustentável?
Por meio das metodologias e tecnologias de Produção Mais Limpa (P+L) tem sido possível observar a maneira pela qual cada processo de produção pode se tornar mais limpo e mais eficiente, seja na economia de água, na redução da energia utilizada, na quantidade de matéria prima, ou ainda na geração intermediária ou final de resíduos. Hoje os desafios estão antes e depois do processo de produção, isto é, no ecodesign – no próprio desenho dos produtos, na substituição de materiais, nas embalagens, entre tantos outros fatores.

Ao longo da última década, o conceito de P+L foi ampliado devido a pressões de organizações não governamentais (ONGs), dos consumidores, da competição de mercado e de novos instrumentos de políticas públicas. Passou a incorporar novas variáveis, critérios e princípios incluindo as questões sociais que estavam relegadas em relação às ambientais. A evolução do conceito de P+L levou à ideia de “Produção e Consumo Sustentáveis” (PCS), que reúne as duas pontas do processo produtivo com impacto direto na sustentabilidade.

É importante notar que não é simples desenvolver um projeto efetivamente sustentável, porém seus retornos econômicos são significativos. Como exemplo, uma famosa cervejaria holandesa canaliza o vapor formado no processo de fermentação da cerveja e utiliza este vapor para a produção de energia elétrica. Esta energia então produzida é utilizada em todas as atividades da cervejaria, desde os setores administrativos, até a própria linha de produção. Além disso, excede o próprio consumo da fábrica, sendo a sobra deste bem de consumo disponibilizado gratuitamente para a comunidade local. Note como neste processo estão contemplados os três pilares da sustentabilidade: o ambiental, o social e o econômico; logo, tem-se verdadeiramente um projeto sustentável.

Com uma legislação cada vez mais restritiva e punitiva quanto à geração de externalidades e consequentemente quanto à produção de impactos ao meio ambiente, o projeto sustentável deve nascer na adequação legal inerente à atividade. Indo além, no Brasil já encontramos benefícios econômicos no cumprimento da legislação, como por exemplo, o Princípio do Protetor-Recebedor, que prevê a possibilidade de recebimento de algum tipo de incentivo para aquele que cumprir com todas as normas ambientais. A ideia central deste princípio é tentar implementar um incentivo fiscal (isenção ou redução de alíquotas de tributos).

O retorno econômico de um projeto sustentável pode então vir da simples adequação e cumprimento da legislação vigente, evitando sanções e possibilitando isenções ou reduções de alíquotas de tributos, como a própria melhoria do processo produtivo, onde se otimiza o uso da matéria prima, reduz a geração de resíduos e, em muitos casos, se utiliza este resíduo novamente na linha produtiva, gerando uma segunda economia, sem contar o fortalecimento da marca perante o mercado competitivo.

Evidente que não é fácil tirar do papel um projeto sustentável. Porém, a elaboração de um projeto específico e direcionado à realidade de cada empresa, pode rapidamente gerar resultados satisfatórios. Uma vez que isto ocorra, os retornos ambientais e sociais são quase imensuráveis e o retorno econômico é altamente significativo.

Por: Luiz Ferrúa